Regressa ao jardim, que ocupa o pátio exterior do café do costume.
Pede um café enquanto acende e inspira profundamente o fumo do cigarro. Sabe-lhe bem, tranquiliza o mar agitado no seu  interior enquanto lhe queima a traqueia. 
Na mesma mesa, na mesma cadeira, sente o calor do sol preguiçoso do outono a despedir-se.
Sente-se esmagada pelas mesmas rotinas repetidas vezes sem conta. 
Hoje está sozinha e perde-se na questão:
- O que é originalidade? 
Desejava ter presente os atores do costume mas,... ninguém aparece.
Fizeram de propósito, a originalidade descobre-se sozinho.
Não será, ao fim ao cabo, uma utopia esta coisa de ser original no meio de 8 bilhões de pessoas?
E em fotografia? Como fazer algo original no meio de milhões de fotografia realizadas e partilhadas por dia?
Chegada a meio café bebido, cai do céu aos trambolhões a questão fulcral:
O que me distingue de todos os outros?
Pausa nesta questão, não quer mergulhar de cabeça na questão e perder-se em filosofia.
Sentada, cruza as pernas e dá um passo atrás. Em investigação cientifica pega-se na ideia, pergunta, questão e/ou evidencia de um estudo e dá-se continuidade, nem que isso implique replicar exatamente o mesmo estudo noutras circunstâncias, noutro contexto ou lugar.
Mas na arte, utilizar uma ideia já usada é uma espécie de plágio, e aprofundar a palavra espécie leva-nos provavelmente para uma paisagem cheia de nevoeiro, onde há mais duvidas que certezas.
Chávena vazia, com o resquício em linha circular e irregular da presença do liquido que agora lhe afaga a orofaringe.
Descobre que, tal como a chávena agora, também ela não tem os conteúdos necessários para explorar estas questões tão complexas.
Acende outro cigarro, já não quer saber se lhe sabe bem ou  não, sabe perfeitamente que a reação a nível cerebral se realizará e liga o lado das coisas práticas. Sendo assim pensa:
Plágio?  Sim, claro que sim, existe, massivamente e eu incluo-me porque, confesso, fiquei de tal forma impressionada com o trabalho de alguém que tive vontade de fazer o mesmo.  Amadorismo, inocência, tolice? Tudo certamente.
É o caminho que quero? Quem me dera ser original todos os dias, todos os anos, de 10 em10 anos.
O que sobra então?
A questão - O que  me distingue dos outros?
Levanta-se, ainda a divagar sobre  se necessita mesmo desta resposta ou se é mais importante ignorar isto e realizar algo em fotografia que seja um resultado genuíno e fiel a/e de si própria. 
Na saída cruza-se com Moryiama, Sontag e Berger que entram no jardim em conversa descontraída,  logo de seguida, a correr para os apanhar, vem Magritte a rir-se e a dizer que hoje esteve um dia de calor fora do normal para a estação. Vão falar certamente do estado do tempo, rirem-se e aproveitarem a companhia uns dos outros
Ela segue o seu caminho lamentando ter perdido este momento, a chávena continuará vazia com um risco mal amanhado de cor acastanhada, lamenta profundamente haver tanta coisa que não sabe... 

  

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